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segunda-feira, 12 de março de 2018

Entrevista com Luiz Andrade



Professor de Desenho e estudante de Língua e Literatura Portuguesa na Universidade Federal do Amazonas, Luiz Andrade faz parte da nova geração de jovens artistas independentes que vem tomando frente no cenário da cidade de Manaus. De produção ávida, contatos formados e asserção de quem sabem exatamente o que quer, Luiz já possui uma vasta experiência no meio em que atua, traçando seu legado naturalmente com oficinas, palestras, stands e o que mais lhe couber nos eventos e oportunidades que vão proliferando no viés nerd/geek. Atualmente com um projeto buscando financiamento coletivo, este jovem e carismático talento presta a seguinte entrevista, com a gentileza que lhe é peculiar.

Clube dos Quadrinheiros de Manaus: Primeiramente apresente-se falando um pouco sobre você e sua trajetória como artista.
Luiz Andrade: Bom, sou cartunista, estudante de Língua Portuguesa e também me arrisco como escritor de vez em quando. Faço parte do coletivo X Mao desde 2010, talvez o maior responsável pelos acontecimentos na minha ainda curta carreira. Foi pelo coletivo que participei de muitas exposições e eventos, além de publicar meus primeiros fanzines.
Hoje me dedico aos quadrinhos, ao cartum, a tira de cunho político e aos escritos ocasionais.

C.Q.M.: Quais são suas principais influências nacionais e internacionais?
L.A.: Por conta da minha preferência temática, sempre fui fã do trabalho da Laerte e do Angeli. Ambos me influenciaram bastante quando iniciei o cartum até encontrar um estilo próprio. Como quadrinista, sou fascinado pelo trabalho dos gêmeos e Moon e pela narrativa de Will Eisner. Mas também tenho uma paixão pelo quadrinho e pela animação japonesa, com um destaque para o Studio Ghibli que me guia sempre que trato de algo mais intimista.

O talentoso e ávido Luiz Andrade que já marca presença
no cenário independente de Manaus
C.Q.M.: Agora conte um pouco de seu projeto que está aberto a financiamento coletivo.
L.A.: Trovão é um quadrinho no qual venho trabalhando a pelo menos 2 anos. Parei e recomecei o projeto algumas vezes e resolvi que esse ano lançaria, por conta do FIQ em BH. Entrei com uma campanha no Catarse para financiar o primeiro volume que se chama Irmandade e que contará com 32 páginas, entre história e extras. A narrativa tem como pano de fundo Manaus e mostra como o protagonista, Léo (Trovão), deixa de ser menino de rua e passa a ser um vigilante mascarado em busca de desvendar um crime que pode ter relação com seus amigos de infância.

C.Q.M.: Financiamentos coletivos geralmente só alcançam as metas, aqueles que já tem uma sólida base de seguidores nas redes virtuais. Isso desfavorece artistas iniciantes pouco conhecidos. No seu ponto de vista, quais seriam as alternativas pra essa problemática?
L.A.: O maior problema, creio eu, nem é tanto a fanbase, mas sim a transposição das barreiras que nos cercam, geográfica e digitalmente. Em outras regiões, sobretudo a sudeste, as pessoas já estão familiarizadas com o crowndfunding, muito diferente do que vemos por aqui. Não é difícil encontrar apoiadores no Catarse que já ajudaram a financiar mais de 10, 20 e até 100 projetos! Tenho percebido, com a campanha, que até a mídia especializada tem uma certa resistência a divulgar projetos do norte, tanto que poucos responderam o meu pedido de divulgação via release. Então uma alternativa seria transpor essa barreira, e acredito que levar nosso trabalho em eventos nacionais é uma delas.

C.Q.M.: Sendo você um artista de Manaus, onde praticamente não existe mercado na nona arte, quais as perspectivas que você visa para seu futuro como autor de histórias em quadrinhos?
L.A.: Sendo sincero, eu acredito que terei que deixar a cidade. Talvez não definitivamente, mas é algo que penso bastante em fazer. E parte do motivo é pelo meu futuro acadêmico, já que pretendo unir Letras e quadrinhos em um possível mestrado, e as universidades locais não atendem essa linha de pesquisa. As possibilidades de aperfeiçoamento e de ingressar realmente num mercado estabilizado, são realmente tentadoras para qualquer um que tenha como atividade algum nicho da economia criativa, e infelizmente a nossa cidade ainda está longe dessa realidade.
Questões sociais como características no trabalho do jovem cartunista

C.Q.M.: Hoje em dia é possível se encontrar no underground inúmeros trabalhos artísticos e autores de expressividade sublime e universal. O que falta pro mainstream criar mais oportunidades de visibilidade?
L.A.: Aqui no Brasil ainda temos esses dois bem divididos, mas creio que aos poucos a fronteira está ficando borrada, como acontece no mercado europeu, por exemplo. Acho que o que precisamos é de tempo mesmo. Ainda estamos consolidando uma Comic Con, depois disso acredito que os eventos mais focados no underground vão crescer bastante e a própria produção, alavancada pelo boom do quadrinho nacional. É tudo bem recente, apesar de termos uma história bem rica com a nona arte no Brasil, mas posso apostar que seguiremos um caminho similar aos europeus.

C.Q.M.: O seu trabalho diversifica de ilustrações para livros infantis até ironias políticas ácidas. Nesta disparidade você diversifica também seu método de criação?
L.A.: Sim, bastante. Com minhas tiras, que são semanais, busco uma tirada mais rápida que tenha relação com um fato político da semana. Geralmente sento no computador e ela sai em 15 minutos. Já com os quadrinhos o trabalho é diferente, já que demanda um projeto em fases mais longas (argumento, roteiro, thumbnail etc.). Em geral gosto de ter uma plataforma ou até um objetivo de trabalho, como um edital ou seleção por exemplo. A partir daí começo a trabalhar no método.

C.Q.M.: Em 2015 você participou de uma edição do Salão Internacional do Humor Gráfico de Lima. Sendo o seu trabalho marcado por uma forte característica política, você vê muita diferença, neste aspecto, do Brasil para a capital peruana?
Uma das páginas de "Trovão" que busca financimento coletivo
L.A.: O Salão de Lima já é bem tradicional e entrar foi um marco pessoal. De forma até genérica, julgo que os outros países latino americanos e os europeus, teem uma relação com o cartum político muito mais ligada à denúncia, e isso fica claro em suas representações. Eles são mais literais, radicais e não deixam passar a oportunidade de se opor à “máquina” ou a qualquer injustiça. Ainda temos poucos exemplos dessa insurgência por aqui.

C.Q.M.: Quais suas metas para curto, médio e longo prazo?
L.A.: A curto prazo creio que a maior meta seja estar no FIQ esse ano e levar um bom material de apresentação. A médio prazo pretendo continuar produzindo Trovão e minhas tirinhas enquanto termino a faculdade e penso nos próximos passos. Já para um futuro um pouco mais distante, acredito que ó principal plano é não parar de desenhar, por enquanto rs.

C.Q.M.: Deixe seus contatos, links e uma mensagem para os leitores.
L.A.: Podem me achar nas redes sociais como Luiz Andrade (Facebook) e @luiz.cartunista (Instagram) ou mandar mensagem para luiz.andradellp@gmail.com.
Bom, espero que o papo tenha sido divertido e digo, pra quem é produtor de quadrinhos, não desista! Se é do norte então, continue firme, estude, leia e continue produzindo!

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