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domingo, 12 de abril de 2015

Kiss & Homem-Aranha: Mega Projeto Cinematográfico da Marvel Comics

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Algumas décadas atrás, antes de eu ficar obcecado por rock, eu tinha outro vício em minha vida: histórias em quadrinhos.
Eu me lembro de ter ganho o primeiro número de “Capitão América” lançado pela editora Abril em 1979, e que deve ter sido a primeira HQ que eu de fato li [eu era recém-alfabetizado], ou que pelo menos achei ter lido. EU a guardo até hoje. Claro que devido ao antigo efeito que o cross media causa nas crianças, eu pedia revistas em quadrinhos de personagens que via na TV, e meus pais não viam problema algum em desembolsar uns poucos trocados para pelo menos me acostumar ao hábito de ler, ainda que eu não pudesse decodificar nada textualmente. Transpuseram-se da televisão pra minhas mãos figuras como Homem-Aranha, Flash Gordon, Tarzan, Batman & Robin [pelos cartoons] e o Super-Homem [pelo filme de 1978 ao qual minha mãe me levou e com o qual eu, claro, PIREI].
Minha relação com as revistas em quadrinhos continuou a se fortalecer ao longo dos anos e piorou MUITO em 1983, quando a Abril tornou-se detentora única dos direitos de publicação da Marvel Comics no país [ocorreria o mesmo com a DC Comics em 1984]. Conhecendo mais sobre que herói pertencia à qual empresa, eu fui me afundando em sebos e bancas de revistas até que em uma viagem a Fortaleza em dezembro de 83, a coisa toda tomou uma proporção preocupante.
Entrei despreocupadamente com meu pai na Livraria do Edésio [uma precursora das atuais Saraiva e FNAC da vida] e me deparei-me com uma BAITA seleção de títulos da Marvel e da DC Comics originais dos EUA.
Cada um custava cerca de quatro vezes mais do que uma título similar nacional, mas tal como eu encararia edições japonesas de CDs dez anos depois, eu não me importava. Valia a pena. Só a publicidade contida nas páginas daquelas revistas já valia o investimento: de que outro modo um moleque ficaria a par dos novos cartuchos do ATARI lançados nos EUA antes da internet?
Consegui arrancar cerca de dez revistas ao longo da viagem toda [ainda as possuo, encadernadas], mediante a promessa de me matricular – e frequentar dignamente – um curso de inglês a partir de 1984.
Lendo, relendo e trilendo aqueles comics, fiquei conhecendo a figura de JIM SHOOTER, editor-chefe da Marvel e um dos maiores gênios da história do ramo, tendo começado sua trajetória na indústria aos 13 anos de idade e que tinha uma coluna tipo ‘cantinho do editor’ ao fim de cada título regular da editora [que hoje pertence à Disney].
Foi Jim quem levou os HQ de novo às massas, colocando-os em caixas de supermercado, aeroportos e lojas de conveniência, multiplicando em mais de dez vezes as vendas da empresa em poucos anos. Alguns dos títulos mais populares de sua administração tinham tiragens de 500 mil cópias, algo impensável para os padrões atuais de consumo.
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Shooter respondia às perguntas dos leitores e anunciava novidades e notícias da redação, era caricaturado pelos artistas subordinados a ele, e foi gentil o suficiente para me responder vi a carta em 1984, quando o indaguei sobre como importar certos títulos. Infelizmente não possuo mais o belo envelope timbrado com o Homem-Aranha que recebi nos confins do Rio Grande do Sul diretamente da Park Avenue de Nova Iorque.
Foi revisitando minha infância recentemente que descobri que Shooter possui um blog – cujo nível de ‘cool’ não pode ser descrito com palavras. Foi nesse blog que me deparei com sua crônica sobre um projeto cinematográfico sabiamente engavetado pela Marvel e que o mundo não merecia mesmo ver.
Em 1979, os chefões da Marvel queriam embarcar na onda ‘disco’ e encomendaram aos redatores uma heroína que fosse uma cantora, e ela tinha que ser moldada na figura da sex symbol BO DEREK [no auge de seu sucesso com o filme “Mulher Nota 10”], tudo isso para uma parceria com a gravadora Casablanca Records. O projeto seria uma empreitada cobrindo revistas em quadrinhos, brinquedos, discos e o cinema.
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Nasceu assim a personagem DAZZLER [ou “Cristal”, como foi batizada no Brasil], uma mutante que podia absorver sons e dominar luzes, e que ganhava a vida como cantora de discothéque. A iluminação de seu show emanava dela própria, sem que os fãs jamais soubessem disso. Quando foi revelado quem ela realmente era, a jovem Alison Blaire caiu no ostracismo e não lhe restou outra opção de emprego a não ser entrar para os X-MEN.
A Casablanca adorou o conceito todo e a joint venture sondou a própria Bo Derek para interpretar o papel no cinema, mas quando ela exigiu que seu marido, o cineasta John Derek, dirigisse a produção, o caldo começou a entornar.
Na foto abaixo, o casal pode ser visto no Festival de Cannes realizado à época das conversas, na qual John carrega uma pilha de revistas da Marvel [“Mulher-Hulk” está no topo]:
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De repente, todas as produtoras de Hollywood queriam bancar o filme, e a Casablanca presumiu que seria uma oportunidade única de supervalorizar seu casting, e a pré-produção do filme estipulava quais artistas do casting da gravadora desempenhariam qual papel na película. Teríamos:
CHER como a “Witch Queen”
DONNA SUMMER [RIP] como “The Queen Of Fire”
KISS como os “Dreadknights”
ROBIN WILLIAMS [RIP] como “Tristian”
THE VILLAGE PEOPLE como “The Stompers” [a pedido de Paul Stanley?]
LENNY & SQUIGGY como “The Jesters”
RODNEY DANGERFIELD [RIP] como “Dewey”, “Cheetham” e “Howe”
e
DISCO DAZZLER, HOMEM-ARANHA e OS VINGADORES completariam a lista de integrantes da trama. A formação dos Vingadores na época era composta pelo HOMEM DE FERRO, FALCÃO, FEITICEIRA ESCARLATE, FERA e VESPA.
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Um projeto talvez ambicioso demais, e que realmente acusou o golpe quando Bo Derek desistiu da fita. Símbolo sexual maior dos EUA naquele fim dos anos 70, a atriz, hoje praticamente aposentada, tinha grande prestígio para trazer com ela a algo desse tamanho, e sua resignação oficial em 1980 bem enterrou as pretensões da Casablanca e da Marvel quando todos os interessados se debandaram com ela.
Ainda houve uma segunda tentativa de se realizar o filme, que agora teria DARYL HANNAH no papel principal, mas a sinopse não atraiu investidores suficientes para tirar a ideia do story board.
Dazzler ainda é um personagem presente na Marvel e celebrado por fãs de HQ, sendo presença constante em feiras especializadas ao redor do mundo na forma de cosplay.
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Mantenha a fonte ao citar o texto: Kiss & Homem-Aranha: megaprojeto cinematográfico da Marvel Comics http://whiplash.net/materias/biografias/180012-kiss.html#ixzz3X7YVsa6V
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quinta-feira, 2 de abril de 2015

Dias da Meia Noite

O selo Vertigo lançou no ano de 2013, pela editora Panini a edição de luxo encadernada ”Dias da Meia Noite” do mestre Neil Gaiman, no qual a bonita apresentação gráfica de um formato americano com capa dura e miolo em papel couchê, chega a ser superada pelo conteúdo de importância histórica, devido se tratar de, nada mais, nada menos, que as primeiras histórias em quadrinhos deste grande nome autoral no cenário global.
São exatas seis histórias feitas, cada uma, em parceria com um artista diferente, que permeiam entre os extremos de teor gótico profundo ao humor negro inesperado. Cada HQ é antecedida por uma lauda escrita pelo próprio Gaiman, onde este discorre seu parecer pessoal da obra precedida. Em algumas ele dá seu ponto de vista particular sobre o tema. As vezes chega a ser detalhista quanto ao processo de criação e concepção, e mesmo o trabalho com o nome de quem ilustra o texto.
A bela capa da luxuosa edição com raridades de Neil Gaiman
Abrindo o álbum, já uma clássica desenterrada de arquivos esquecidos. “Jack in the Green” havia sido criada 1985 e só foi lançada em 1999, devido ao fato dele (Neil Gaiman) ter se envolvido com vários outros projetos. A obra em si, conta uma experiência doMonstro do Pântano vivida no século XVI. É desenhada porStephen Bissette e John Totleben. Em seguida vem uma extensa, com mais de 40 páginas, que foi lançada na revista Monstro do Pântano Anual. “Irmão” traz uma entidade fantasmagórica, inócua e circense com desenhos deRichard Piers RaynerMike Hoffman e Kim DeMulder. Detalhe que esta história tem uma rápida aparição de Batman e outra do personagem que nomeia a revista. A terceira posição fica por conta de uma curtinha, também do querido monstro pantanoso. “Contos de Deuses Peludos” é o único feito de Gaiman em parceria com Mike Mignola(mesmo ilustrador de Hellboy) e traz Alec Holland como um conselheiro supremo de outro imaturo ser vegetal. Na sequência está “Hold Me”, que em sua tradução ficou nomeada apenas como “Abraço”. A história tem a beleza inconfundível da arte de Dave McKean, que também ilustra a capa do álbum, como já é costume em muito feito por Gaiman. O enredo é comJohn Constantine empenhado em desvendar o caso de estranhos assassinatos. A penúltima é uma ótima surpresa. “O Teatro da Meia Noite de Sandman” é um crossover com os personagens Sandman (Morpheus, o Senhor dos Sonhos) e Sandman (justiceiro de máscara de oxigênio que coloca seus oponentes pra dormirem, usando uma pistola de gás). Os desenhos são de Teddy Kristiansen e o texto foi escrito em parceria comMatt Wagner. Fechando com chave de ouro, vem mais uma excelente surpresa. “Bem Vindo de Volta à Casa dos Mistérios” também é curtinha e expõe um lado obscuro de Gaiman, por ser no estilo de humor. A parceira nesta feita é com, ninguém menos que, Sergio Aragonés (mesmo ilustrador do errante Groo). As páginas foram pensadas como abertura e fechamento de uma edição especial da revista “House of Mystery”, a qual influenciou bastante o estilo único de Gaiman.
Além de um texto de apresentação do álbum, logicamente escrito pelo autor mor, o comic book encerra com resenhas curtas de cada artista envolvido no livro, inclusive os coloristas, poupados nesta modesta resenha.
Não apenas um belo exemplar pra compor estantes, por sua beleza gráfica, “Dias da Meia Noite” é indiscutivelmente um álbum de luxo que coleta trabalhos históricos do premiado legado de Neil Gaiman, e pode ser usado como bom modelo exemplar deste grande mestre da literatura dos quadrinhos.