Professor
de Desenho e estudante de Língua e Literatura Portuguesa na
Universidade Federal do Amazonas, Luiz
Andrade faz parte da nova geração
de jovens artistas independentes que vem tomando frente no cenário
da cidade de Manaus. De produção ávida, contatos formados e
asserção de quem sabem exatamente o
que quer, Luiz já possui uma vasta experiência no meio em que atua,
traçando seu legado naturalmente com oficinas, palestras, stands e o
que mais lhe couber nos eventos e oportunidades que vão proliferando
no viés nerd/geek.
Atualmente com um projeto buscando financiamento coletivo, este jovem
e carismático talento presta a seguinte
entrevista, com a gentileza que lhe é peculiar.
Clube
dos Quadrinheiros de Manaus:
Primeiramente apresente-se falando um pouco sobre você e sua
trajetória como artista.
Luiz
Andrade: Bom, sou cartunista,
estudante de Língua
Portuguesa
e também me arrisco como escritor de vez em quando. Faço parte do
coletivo X Mao
desde 2010, talvez o maior responsável pelos acontecimentos na minha
ainda curta carreira. Foi pelo coletivo que participei de muitas
exposições e eventos, além de publicar meus primeiros fanzines.
Hoje
me dedico aos quadrinhos, ao cartum, a tira de cunho político e aos
escritos ocasionais.
C.Q.M.:
Quais são suas principais influências nacionais e internacionais?
L.A.:
Por conta da minha preferência
temática, sempre fui fã do trabalho da Laerte
e do Angeli.
Ambos me
influenciaram bastante quando iniciei o cartum até encontrar um
estilo próprio. Como quadrinista, sou fascinado pelo trabalho dos
gêmeos Bá
e Moon
e pela narrativa de Will Eisner.
Mas também tenho uma paixão pelo quadrinho e pela animação
japonesa, com um destaque para o Studio
Ghibli que me guia sempre que trato
de algo mais intimista.
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O talentoso e ávido Luiz Andrade que já marca presença
no cenário independente de Manaus |
C.Q.M.:
Agora conte um pouco de seu projeto que está aberto a financiamento
coletivo.
L.A.:
Trovão
é um quadrinho no qual venho trabalhando a pelo menos 2 anos. Parei
e recomecei o projeto algumas vezes e resolvi que esse ano lançaria,
por conta do FIQ em BH. Entrei com uma campanha no Catarse
para financiar o primeiro volume que se chama Irmandade
e que contará com 32 páginas, entre história e extras. A narrativa
tem como pano de fundo Manaus e mostra como o protagonista, Léo
(Trovão),
deixa de ser menino de rua e passa a ser um vigilante mascarado em
busca de desvendar um crime que pode ter relação com seus amigos de
infância.
C.Q.M.:
Financiamentos coletivos geralmente só alcançam as metas, aqueles
que já tem uma sólida base de seguidores nas redes virtuais. Isso
desfavorece artistas iniciantes pouco conhecidos. No seu ponto de
vista, quais seriam as alternativas pra essa problemática?
L.A.:
O maior problema, creio eu, nem é tanto
a fanbase,
mas sim a transposição das barreiras que nos cercam, geográfica e
digitalmente. Em outras regiões, sobretudo a sudeste, as pessoas já
estão familiarizadas com o crowndfunding,
muito diferente do que vemos por aqui. Não é difícil encontrar
apoiadores no Catarse
que já ajudaram a financiar mais de 10, 20 e até 100 projetos!
Tenho percebido, com a campanha, que até a mídia especializada tem
uma certa resistência a divulgar projetos do norte, tanto que poucos
responderam o meu pedido de divulgação via release.
Então uma alternativa seria transpor essa barreira, e acredito que
levar nosso trabalho em eventos nacionais é uma delas.
C.Q.M.:
Sendo você um artista de Manaus, onde praticamente não existe
mercado na nona arte, quais as perspectivas que você visa para seu
futuro como autor de histórias em quadrinhos?
L.A.:
Sendo sincero, eu acredito que terei que
deixar a cidade. Talvez não definitivamente, mas é algo que penso
bastante em fazer. E parte do motivo é pelo meu futuro acadêmico,
já que pretendo unir Letras
e quadrinhos em um possível mestrado, e as universidades locais não
atendem essa linha de pesquisa. As possibilidades de aperfeiçoamento
e de ingressar realmente num mercado estabilizado, são realmente
tentadoras para qualquer um que tenha como atividade algum nicho da
economia criativa, e infelizmente a nossa cidade ainda está longe
dessa realidade.
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Questões sociais como características no trabalho do jovem cartunista |
C.Q.M.:
Hoje em dia é possível se encontrar no underground inúmeros
trabalhos artísticos e autores de expressividade sublime e
universal. O que falta pro mainstream criar mais oportunidades de
visibilidade?
L.A.:
Aqui no Brasil ainda temos esses dois
bem divididos, mas creio que aos poucos a fronteira está ficando
borrada, como acontece no mercado europeu, por exemplo. Acho que o
que precisamos é de tempo mesmo. Ainda estamos consolidando uma
Comic Con,
depois disso acredito que os eventos mais focados no underground
vão crescer bastante e a própria produção, alavancada pelo boom
do quadrinho nacional. É tudo bem recente, apesar de termos uma
história bem rica com a nona arte no Brasil, mas posso apostar que
seguiremos um caminho similar aos europeus.
C.Q.M.:
O seu trabalho diversifica de ilustrações para livros infantis até
ironias políticas ácidas. Nesta disparidade você diversifica
também seu método de criação?
L.A.:
Sim, bastante. Com minhas tiras, que são
semanais, busco uma tirada mais rápida que tenha relação com um
fato político da semana. Geralmente sento no computador e ela sai em
15 minutos. Já com os quadrinhos o trabalho é diferente, já que
demanda um projeto em fases mais longas (argumento,
roteiro, thumbnail etc.). Em geral
gosto de ter uma plataforma ou até um objetivo de trabalho, como um
edital ou seleção por exemplo. A partir daí começo a trabalhar no
método.
C.Q.M.:
Em 2015 você participou de uma edição do Salão Internacional do
Humor Gráfico de Lima. Sendo o seu trabalho marcado por uma forte
característica política, você vê muita diferença, neste aspecto,
do Brasil para a capital peruana?
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Uma das páginas de "Trovão" que busca financimento coletivo |
L.A.:
O Salão de Lima já é bem tradicional
e entrar foi um marco pessoal. De forma até genérica, julgo que os
outros países
latino americanos e os europeus, teem
uma relação com o cartum político muito mais ligada à denúncia,
e isso fica claro em suas representações. Eles são mais literais,
radicais e não deixam passar a oportunidade de se opor à “máquina”
ou a qualquer injustiça. Ainda temos poucos exemplos dessa
insurgência por aqui.
C.Q.M.:
Quais suas metas para curto, médio e longo prazo?
L.A.:
A curto prazo creio que a maior meta
seja estar no FIQ esse ano e levar um bom material de apresentação.
A médio prazo pretendo continuar produzindo Trovão
e minhas tirinhas enquanto termino a faculdade e penso nos próximos
passos. Já para um futuro um pouco mais distante, acredito que ó
principal plano é não parar de desenhar, por enquanto rs.
C.Q.M.:
Deixe seus contatos, links e uma mensagem para os leitores.
L.A.:
Podem
me achar nas redes sociais como Luiz
Andrade
(Facebook)
e @luiz.cartunista (Instagram)
ou mandar mensagem para luiz.andradellp@gmail.com.
Bom,
espero que o papo tenha sido divertido e digo, pra quem é produtor
de quadrinhos, não desista! Se é do norte então, continue firme,
estude, leia e continue produzindo!