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quarta-feira, 16 de março de 2016

Diomedes - A Trilogia do Acidente

No intuito de fazer uma graphic novel autoral com formato de 26cm e meio por 18cm e meio, dividida numa trilogia (a qual o terceiro livro acabou sendo dividido em dois, transformando assim o projeto em quatro álbuns), a história do detetive Diomedes foi lançada inicialmente no ano de 1999 por seu premiado autor Lourenço Mutarelli, através da Devir Livraria. O primeiro volume recebeu o título de “O Dobro de Cinco”, seguido pelo segundo volume “O Rei do Ponto” e o terceiro, fechando a saga “A Soma de Tudo” publicado em 2002. Dez anos após o planejado, a Editora Schwarcz (Companhia das Letras), numa ousadia surpreendente, lança em edição completa e volume único, no formato de 27cm e meio por 18cm e meio, que acabou recebendo o nome de “Diomedes – A Trilogia do Acidente”.
Capa de ótimo exemplar da qualidade dos quadrinhos autorais
O clima noir é transmitido perfeitamente pelo artista que consegue ilustrar num preto e branco sombrio, o suspense policial recheado de intrigas, enigmas e referências a cinema, música, poesia e histórias em quadrinhos. Aliás, as referências às histórias em quadrinhos são inúmeras e alcançam o seu ápice no episódio onde o protagonista principal tem de comparecer a uma convenção de “bandas desenhadas” na cidade lusitana de Lisboa. Personagens reais aparecem e protagonizam no decorrer de toda a história, inclusive o próprio Lourenço que tem uma participação fundamental no enredo. Quem conhece a obra de Mutarelli, sabe que ele sempre teve um traço peculiar onde as anatomias mesclam caricatura com cartum e os cenários estão entre o chapado simples e a hachura detalhada. Pois aqui, ele consegue manter esta sua “marca registrada”, mostrando um perfeccionismo digno de quem já pratica a arte há algumas décadas. Todo o texto da obra é feito manualmente, letra a letra. O que chega a ser impressionante, considerando-se as 430 páginas do todo, nos tempos em que, praticamente todo mundo, recorre ao computador para esta labuta. O único detalhe que parece estar deslocado do completo, é a quebra no roteiro da trama com um final totalmente filosófico. Infelizmente isso acaba passando a sensação non sense pra uma história de aventura policial. Contudo, o deslize é facilmente entendido no texto que segue pós HQ, onde o autor transparece o luto do falecimento de seu pai, que influenciou diretamente na criação do personagem e até lhe serviu de consultor conselheiro em algumas passagens. A dissonância no roteiro, facilmente percebível pelo leitor, acontece justamente no momento da perda do ente querido. Ressalta-se também o fato do roteiro ter sido escrito, conforme a história ia sendo desenhada. Rascunhos, textos e esboços não aproveitados fecham o encadernado com características de épico contemporâneo.
Ótima mostra do trabalho magnífico de Lourenço Mutarelli, o comic bookDiomedes – A Trilogia do Acidente” vale cada centavo do calhamaço, por ser também um grande exemplar de qualidade das histórias em quadrinhos autorais brasileiras.

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