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quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Crônica Sobre o Símbolo do Clube dos Quadrinheiros de Manaus

Toda classe, grupo ou estereótipo tem algum tipo de representação simbólica. Seja um elemento natural, um caractere, uma flâmula ou um brasão, a ideia se expressará diretamente, subjetivamente ou metaforicamente. No gráfico, no multi dimensional ou mesmo no imaginário, a apresentação se impõe figurante. Porém, há aquelas simbologias estigmatizadas, que nascidas do vurmo contra cultural, são tão significantes quanto a escuridão para a claridade.
No ano de 1992, quando o Clube dos Quadrinheiros de Manaus foi criado, a missão de elaboração de seu símbolo, foi delegada ao artista plástico/desenhista/poeta João Castilho Neto. Em poucos dias, o mestre que na época contava com 42 anos de idade[1], apareceu em reunião deste grupo com o produto final. A forma circular com o nome Clube dos Quadrinheiros de Manaus rodeando o desenho, mostrou-se ideal para sua aplicação propagandista e qualquer outro tipo de atribuição. A técnica era do preto e branco simples, na mais fiel referência à arte autoral. O desenho em si, um animal lendo uma revista em quadrinhos. Diga-se de passagem que, ler histórias em quadrinhos é a conjugação que melhor define o ser quadrinheiro[2]. O bicho, um urubu. A logomarca foi acatada unanimemente.
No decorrer de todos esses anos, o Clube dos Quadrinheiros de Manaus ganhou muitas negações do poder público e privado em suas empreitadas independentes, como um urubu discriminado pela grande maioria. O quadrinheiro, membro do Clube, dificilmente é convidado para algum tipo de parceria. Exatamente como o urubu, um “marginal” do reino animal, que não chega nem a ser caçado por ter carne indigesta (a única vantagem disto é não ter predador natural). Por muitas vezes, sem nenhum tipo de recurso, o quadrinheiro, membro do Clube, usa da criatividade, fazendo reaproveitamento e reciclagens de suas ferramentas e de suas técnicas, para finalizar suas obras. Assim como o urubu, que encontra em qualquer canto seu lar e em qualquer lixeira seu alimento. No seu amadurecimento, o quadrinheiro, membro do Clube, corrige erros de seu passado e explana sua experiência em busca de profissionalização e dignidade em seus feitos contemporâneos[3]. Bem como o urubu que, no planar de seu voo tranquilo, espreita sereno a todos à quilômetros de altura.
Até hoje ainda há quem não se identifique com a nobreza deste ovíparo singular e mesmo quem não compreenda seu simbolismo lírico urbano. Contudo, as gerações se renovam num ciclo infindável de quadrinheiros do Clube, que tomam novos rumos, com o passar do tempo e de outros que chegam, com grande fome de produzir algo e agregar, portando camisetas nerds, escutando The Clash e lendo Baudelaire. Logo, não é difícil chegar a conclusão de que nenhum outro animal ilustra com tal perfeição o Clube dos Quadrinheiros de Manaus, como o urubu. Afinal, desprezado ou não, se trata de um animal que, como outro qualquer, só vive o direito de manter sua espécie.
Lembrem-se que enquanto houver claridade, haverá a escuridão, com todos os seus elementos pertinentes. Como diriam os Titãs, “...oncinha pintada, zebrinha listrada, coelinho peludo, vão se...”.

Por: Mário Orestes Silva


[1] Até a publicação deste texto, Castilho ainda continua em plena produção artística em Mogi das Cruzes, interior de São Paulo.
[2] Quadrinhista ou Quadrinista, é o nome dado àquele que faz histórias em quadrinhos, a profissão. Quadrinheiro é o termo que significa aquele que compra, coleciona, cultua ou simplesmente lê histórias em quadrinhos.
[3] O Clube dos Quadrinheiros de Manaus acaba de adquirir seu Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica – CNPJ.

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