A explicação para a afirmação de que Watchmen é a melhor história em quadrinhos já produzida até agora, cabe à inovação revolucionário que esta causou ao ser lançada, influenciando cinema, animes, games e outras histórias em quadrinhos. Escrita brilhantemente por Alan Moore, desenhada por Dave Gibbons e colorida por John Higgins, esta obra prima foi lançada originalmente pela DC Comics de 1986 a 1987 em 12 edições mensais. Posteriormente a série foi lançada encadernada em volume único.
The Watchmen na boa versão cinematográfica |
A inovação já começava no formato. Seu sucesso imediato ajudou a popularizar o chamado “formato americano”, popularizando também as “graphic novels”, sendo estas direcionadas para um público mais adulto, diferentemente do consumidor usual (até então) de histórias em quadrinhos. A justificativa está na abordagem do tema. Uma sátira direta aos quadrinhos de super heróis. Exatamente o que vigorava e dominava o mercado americano da época. Watchmen é um grupo de heróis, fantasiados aposentados, que decide retornar à cena para investigar o assassinato de um dos membros do grupo. Porém, o caráter violento, irônico e sociopata de alguns, mostra-os mais como anti heróis.
Para montar a saga, Moore formou seus personagens baseados em heróis já existentes, mas agregando elementos de vários outros personagens, conseguindo assim, originalidade com referências diretas, sem problemas com direitos autorais.
A deliciosa Espectral |
Em pleno clima de guerra fria da década de 80 (o enredo da história ocorre, mais precisamente no ano de 1985), o grupo de heróis encontrava-se aposentado, até mesmo pela pressão que sofreram com um decreto de lei que obrigava qualquer justiceiro mascarado ou fantasiado a se registrar no governo para serem supervisionados em suas ações. Sendo que destes, apenas dois continuaram em atividade autorizada. São eles: o Comediante, vivido pelo violento Edward Blake, que passou a atuar para o governo como uma espécie de justiceiro de aluguel e Dr. Manhattan, físico nuclear Jonathan Osterman, que após um acidente de trabalho é desintegrado, mas consegue reagrupar o seu organismo ganhando o poder do controle da matéria e dos átomos, podendo inclusive viajar no tempo, no espaço, multiplicar ou transmutar o seu corpo (na verdade, Dr. Manhattan é o único que possui super poderes equivalendo-se a um Deus). Um deles ficou atuando na ilegalidade. Rorschach (Walter Kovacs) um excelente detetive, violento, pessimista e totalmente anti social vive como fugitivo da polícia por ainda combater o crime mascarado (tornando-se um terror para os criminosos), sem a obrigação de se registrar ao governo. Os demais se aposentaram. Ozymandias, assume sua identidade verdadeira de Adrian Veidt. É um milionário egocêntrico considerado o homem mais inteligente do mundo. Sua inteligência é tanta que se tornou um mestre em artes marciais e esportes, chegando a ponto de se esquivar de tiros por conseguir calcular a velocidade das balas em suas trajetórias. O Coruja, com o alter ego de Dan Dreiberg, também milionário, mas com uma vida bem mais modesta que Veidt. É especialista em alta tecnologia e abusava de artefatos dessa natureza para o combate ao crime. E Espectral vivida por Laurie Juspeczyk, uma gostosa vigilante ex esposa de Dr. Manhattan.
A trama começa a se desenrolar quando Comediante é assassinado e Rorschach passa a investigar o crime, com a certeza de que a morte é apenas o começo de uma espécie de vingança para com o grupo. O que enriquece a história é o fato dela ser entrecortada com episódios biográficos de cada personagem, sendo que cada biografia mostra aventuras e referências diversas. As referências são tantas que variam de passagens da Bíblia a Jimi Hendrix, Nietzsche e Bob Dylan. É preciso várias leituras de Watchmen para se começar a compreender toda a linearidade e a perceber as inúmeras referências existentes na série que estão expostas tanto no texto, quanto nos desenhos.
No ano de 2009 a história deu origem a uma super produção cinematográfica homônima muito boa e bastante fiel à HQ.
Sucesso unânime de público e crítica, Watchmen ganhou vários prêmios e consta como melhor literatura até mesmo dentre listagens de romances, sendo em alguns casos, a única história em quadrinhos a alcançar essa proeza. Existem sites inteiros dedicados à obra que já foi inclusive tese de mestrado e até hoje é estudada por escritores e roteiristas do mundo todo. Uma verdadeira lição de história bem escrita.
Quem não leu, deve ler para ter um mínimo de entendimento sobre a complexidade e importância das histórias em quadrinhos no gigantesco universo das artes em geral.
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