No intuito
de fazer uma graphic novel autoral
com formato de 26cm e meio por 18cm e meio, dividida numa trilogia (a qual o terceiro livro acabou sendo
dividido em dois, transformando assim o projeto em quatro álbuns), a
história do detetive Diomedes foi
lançada inicialmente no ano de 1999 por seu premiado autor Lourenço Mutarelli, através da Devir
Livraria. O primeiro volume recebeu o título de “O Dobro de Cinco”, seguido pelo segundo volume “O Rei do Ponto” e o terceiro, fechando
a saga “A Soma de Tudo” publicado em
2002. Dez anos após o planejado, a Editora
Schwarcz (Companhia das Letras), numa ousadia surpreendente, lança em
edição completa e volume único, no formato de 27cm e meio por 18cm e meio, que
acabou recebendo o nome de “Diomedes – A
Trilogia do Acidente”.
Capa de ótimo exemplar da qualidade dos quadrinhos autorais |
O clima noir é transmitido perfeitamente pelo
artista que consegue ilustrar num preto e branco sombrio, o suspense policial
recheado de intrigas, enigmas e referências a cinema, música, poesia e
histórias em quadrinhos. Aliás, as referências às histórias em quadrinhos são
inúmeras e alcançam o seu ápice no episódio onde o protagonista principal tem
de comparecer a uma convenção de “bandas
desenhadas” na cidade lusitana de Lisboa. Personagens reais aparecem e
protagonizam no decorrer de toda a história, inclusive o próprio Lourenço que tem uma participação
fundamental no enredo. Quem conhece a obra de Mutarelli, sabe que ele sempre teve um traço peculiar onde as
anatomias mesclam caricatura com cartum e os cenários estão entre o chapado
simples e a hachura detalhada. Pois aqui, ele consegue manter esta sua “marca registrada”, mostrando um
perfeccionismo digno de quem já pratica a arte há algumas décadas. Todo o texto
da obra é feito manualmente, letra a letra. O que chega a ser impressionante,
considerando-se as 430 páginas do todo, nos tempos em que, praticamente todo
mundo, recorre ao computador para esta labuta. O único detalhe que parece estar
deslocado do completo, é a quebra no roteiro da trama com um final totalmente
filosófico. Infelizmente isso acaba passando a sensação non sense pra uma história de aventura policial. Contudo, o deslize
é facilmente entendido no texto que segue pós HQ, onde o autor transparece o luto do falecimento de seu pai, que
influenciou diretamente na criação do personagem e até lhe serviu de consultor
conselheiro em algumas passagens. A dissonância no roteiro, facilmente
percebível pelo leitor, acontece justamente no momento da perda do ente querido.
Ressalta-se também o fato do roteiro ter sido escrito, conforme a história ia
sendo desenhada. Rascunhos, textos e esboços não aproveitados fecham o
encadernado com características de épico contemporâneo.
Ótima
mostra do trabalho magnífico de Lourenço
Mutarelli, o comic book “Diomedes – A Trilogia do Acidente” vale
cada centavo do calhamaço, por ser também um grande exemplar de qualidade das
histórias em quadrinhos autorais brasileiras.
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