É com o pseudônimo de Gian Danton que o escritor e roteirista de histórias em quadrinhos,
Ivan Carlo Andrade de Oliveira,
conseguiu um certo renome neste meio tão prolífero e marginalizado da arte
contemporânea. Professor da Universidade
Federal do Amapá, este artista e pesquisador da nona arte, já publicou livros e quadrinhos nas editoras D-Arte, ICEA, Nova Sampa, Metal Pesado, Fantagraphics Books, Literata,
Livrorama, Kalaco, Infinitum,
dentre outras, além de colaboração em vários fanzines. Com seu legado já ganhou prêmios como do I Concurso de Crônicas e Contos,
organizado pela Editora Geração, Angelo Agostini, HQ Mix e Associação
Brasileira de Arte Fantástica. Abaixo segue uma sucinta entrevista cedida
gentilmente para Mário Orestes do Clube dos Quadrinheiros de Manaus.
Orestes: Seu
nome já é uma referência nacional no universo dos quadrinhos. Você já consegue
sobreviver da nona arte?
Gian
Danton: Quem dera.
Sou professor universitário e é de onde tiro o meu sustento. Às vezes consigo
tirar uma grana, principalmente de HQs
institucionais, mas com quadrinhos mais autorais, dificilmente dá para ganhar
dinheiro. A única vez em que realmente fui muito bem pago por um roteiro foi
quando participei do MSP+50. O Maurício deveria ser um referencial
para outros editores de quadrinhos. Mais recentemente fiquei pasmo ao receber
por roteiros para a Mundo Paralelo.
O editor, Walter Klatuu, pagou
direitinho. Espero que a revista vingue e vire referência.
O.: Parte
significante de seu legado é voltada para o drama, ficção ou terror. Você já
tentou se aventurar em outros estilos?
O carismático roteirista Gian Danton |
G.D.: Eu costumo dizer que um bom
roteirista deve escrever de tudo. Muita gente se surpreendeu quando comecei a
escrever roteiros para a MAD. O
compadre Joe Bennett foi um: “Mas compadre, você também escreve humor?”.
Escrevo. Aliás, a sátira que fiz sobre a Big
Brother foi muito elogiada. O dono da editora Mithos, que produz material para a Panini chegou a dizer que era a melhor sátira que ele lia há anos
na MAD nacional. Também escrevo
infantil. Recentemente aprovei um projeto de quadrinhos infantis chamado A Turma da Tribo no edital de
literatura da Secretaria de Cultura do
Amapá. A arte será do Ricardo
Manhaes, naquele traço europeu típico dele. Sempre quis fazer algo no
estilo Asterix e essa foi minha
chance.
O.: Além
da literatura, já efetuou algum outro tipo de arte?
G.D.: Eu sou especialista em Artes Visuais. Na época em que estava
cursando realizei diversas obras, inclusive instalações. Mas o que gosto mesmo
é de escrever.
O.:
Como se dá o seu processo de criação?
G.D.: Sabe aquele frase “10% de inspiração e 90% de transpiração”?
Pois é, comigo é assim. Criar sempre é um processo demorado, que envolve
pesquisa e às vezes dias pensando na história. Muitas vezes mergulho na
história a ponto de sonhar com ela, como aconteceu com a Manticore. Tive um pesadelo com a criatura e cheguei a colocar esse
pesadelo na HQ. Aliás, muitas de
minhas histórias surgem de sonhos. Decadence,
com traço do compadre Joe Bennett,
foi assim. Sonhei até com o layout
dela. Ás vezes sonho como se fosse um diretor filmando uma história e até
fazendo modificações no roteiro conforme filma... Ou seja: roteirista trabalha
até quando está dormindo.
O.:
Qual a sua maior dificuldade para a criação?
G.D.: Acho que acabei respondendo as duas
perguntas lá em cima.
O.:
Qual feito você tem como sua obra prima?
G.D.: Difícil escolher uma obra só. Dos
trabalhos que fiz com o Joe Bennett,
gosto muito da Família Titã e da Refrão de Bolero. Ambas devem ser
republicadas em breve em álbuns. A Manticore,
claro, tem que entrar na lista. Mais recentemente um trabalho que tem me dado
muito orgulho é Os Exploradores do
Desconhecido, uma homenagem aos seriados antigos de ficção científica, como Jornada
nas Estrelas publicadas no blog http://www.exploradoresdodesconhecido.net. Há duas editoras interessadas nesse
material, esperando apenas o Jean Okada
terminar de desenhar para publicar.
O.:
Você prefere realizar trabalhos curtos ou de inúmeras laudas?
G.D.: Olha, isso depende do desenhista com
o qual trabalho. Não existe um modelo que funcione para todo mundo. Com o Joe Bennett era sempre Marvel Way: nós discutíamos o roteiro,
ele, muitas vezes ia fazendo o rafe enquanto a gente conversava e eu colocava o
texto diretamente sobre o rafe. Já o Jean
Okada gosta de um roteiro full script,
mas não excessivamente detalhado para deixar brechas para ele criar em cima. Já
trabalhei com um artista português que queria tudo extremamente detalhado.
Pedia até referências visuais dos personagens.
O.:
Quais suas metas e seus próximos projetos?
G.D.: Um projeto recente é o livro “Grafipar,
a Editora que Saiu do Eixo”. Na verdade, recente é a publicação, pois
é resultado de uma pesquisa de quase vinte anos. A obra foi indicada ao HQ Mix na categoria melhor livro
teórico sobre quadrinhos. Também tenho participado de diversas antologias de
terror, ficção científica e fantasia
e ainda este ano deve sair meu primeiro romance, Galeão, uma fantasia histórica sobre um navio perdido no Oceano
Atlântico. Meu objetivo nesse próximo ano é aumentar minha produção literária
e, se possível, a de quadrinhos.
O.:
Deixe seus contatos e um recado para os leitores deste blog.
G.D.: Quero
aproveitar para convidar todos a visitarem meu blog pessoal (ivancarlo.blogspot.com) e meu blog sobre roteiro para quadrinhos (http://roteiroquadrinhos.blogspot.com). Também é possível me adicionar no Facebook (é só procurar por Gian Danton,
sou o único do mundo com esse nome) e no Twitter: @giandanton.
Nenhum comentário:
Postar um comentário